14 DE SETEMBRO: FESTA DO NOSSO SENHOR DA VERA CRUZ

14 DE SETEMBRO: FESTA DO NOSSO SENHOR DA VERA CRUZ

Por Cristiane F. Moreira

14 de setembro, dia de Nosso Senhor da Vera Cruz, uma das festas mais tradicionais da Ilha de Itaparica. Em Baiacu, esse dia é muito especial para os moradores e devotos. Comemora-se o dia de Nosso Senhor da Vera Cruz. Os moradores ficam na expectativa do mês de setembro, referindo-se a ele como “a festa de setembro, evein o mês de setembro” (CS, 66 anos). O 14 de setembro é considerado feriado em todo o município de Vera Cruz.

A festa do Senhor da Vera Cruz é um evento religioso, consistindo da caminhada de fiéis até a sua Igreja, onde se celebra missa solene. A comunidade é a responsável principal pela organização da festa. O dia começa com o toque da alvorada. A rua principal da igreja e a praça ficam ornamentadas. De todas as partes, em romaria, homens, mulheres, crianças e visitantes chegam a pé, conduzindo a imagem do Senhor da Vera Cruz até a antiga colina sagrada. São aproximadamente três quilômetros e meio de caminhada. Após a celebração da missa, o pároco, em procissão frente ao andor, retorna à capelinha da comunidade, acompanhado pelos devotos. O Senhor da Vera Cruz tem a imagem representada em trajes iguais ao do Senhor do Bonfim da Bahia com uma longa cruz de madeira e uma coroa de espinhos em sua cabeça. O corpo é desnudo, coberto apenas com um linho branco na parte da cintura. Os braços e os pés expõem os cravos pregados na cruz. Cada extensão da cruz de madeira se encontra ornada de ouro do século XVI. Apenas nesta data magna da Ilha é que se ornamenta o Senhor da Vera Cruz com esta relíquia dos antepassados portugueses.

Em dias que antecedem à festa, realiza-se a novena com vários temas. São convidados membros de outras localidades para representar a temática da noite. Tanto a velha igreja como a imagem do Nosso Senhor da Vera Cruz e o dique são palcos para as histórias mais fantasiosas daquele povo. Servem para pesquisas etnográficas.

Os moradores de Baiacu, sobretudo, os mais idosos creem, por exemplo, que exista, no “tanque’, pois esse é o modo como o dique é conhecido e denominado pela comunidade, um caixão repleto de ouro, cuja chave se encontra nas mandíbulas e sob a guarda constante de um jacaré. Em torno dessa história, há um outro fato: quando não existia o sistema de abastecimento de água e esgoto e a população precisava lavar as roupas e buscar água no tanque, muitas pessoas encontravam porcelanas e ouro submersos ao redor do dique. Os moradores certificam também que existiam vários patinhos d’água encantados, isto é, apareciam à margem do tanque e, em seguida, desapareciam. Diante dessas histórias, muitos mergulhadores profissionais arriscaram sua própria vida em busca do ouro no tanque.

Tentaram encontrar o caixão misterioso e 28 esqueciam a lama movediça e os jacarés que ali existiam. Alguns acabaram sendo sugados. Daí a crença da população em dizer que o tanque é encantado, milagroso. Essa mítica popular em torno de fictícios tesouros é uma ideia fundada no fato de que a Ordem de Jesus teria escondido preciosidades, quando teve os bens confiscados por Portugal. Na comunidade do Baiacu, há uma crença também em torno da imagem do Senhor da Vera Cruz.

Alguns idosos relatam que, de sete em sete anos, um cavaleiro todo vestido de branco e montado em um cavalo passeia, à meia-noite, em toda a localidade. Eles acreditam que seja o Senhor da Vera Cruz que aparece para bendizer a terra. Há outro exemplo de crença criado pelo imaginário fantasioso do povo baiacuense: o mito dos tijolos. Segundo alguns moradores, os tijolos que foram retirados da antiga igreja guardam consigo um bem precioso, o ouro. Para os habitantes, quem retirou os tijolos assim o fez porque, ao decifrar as palavras escritas em latim, logo descobriu que ali havia o metal amarelo. Mas, o fato é que muitos estudiosos, curiosos e visitantes retiram-nos e também transcrevem o que se encontra sobre os tijolos, como se fosse um tipo de código, porém, nunca se soube da existência de ouro. Independente da fé religiosa de origem católica e das crenças, os moradores do Baiacu aderiram à prática do sincretismo religioso. O candomblé e a umbanda persistem junto aos moradores. Existem, pelo menos, três terreiros, freqüentemente homenageando os seus santos protetores, com oferendas e batuques. A Igreja Universal do Reino de Deus e a Assembléia de Deus têm deslocado a fé de algumas yaôs para seus cultos.

http://www.demacamp.com.br/svo/assets/disserta%C3%A7%C3%A3o_cristiane-f.-moreira–a-ilha-de-itaparica.pdf

Comentários

  • Ana Cirqueira Guimarães
    Setembro 12, 2021 at 7:35 am

    Parabéns Cristiane Moreira, por todos esses relatos do Nosso Senhor da Vera Cruz, há quem diga que tudo isso não passa de uma lenda ou então de histórias de pescadores, porque baiacu, a localidade onde foi construída a igreja do Nosso Senhor da Vera Cruz, é uma aldeia de pescadores. Eu creio que de fato houve alguns milagres, pois Jesus cura as pessoas que tem fé.

  • Ana Cirqueira Guimarães
    Setembro 12, 2021 at 7:38 am

    Quem tem fé vai a pé

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